sexta-feira, 3 de abril de 2009

O Briareu é,na verdade,um moinho.

Por Heitor Reis de Oliveira 17/02/2009 às 17:22

1.Ativismo anti-burguês.
2.O que é ser burguês.
3.Novo ativismo.

O Briareu é,na verdade,um moinho.
Todos conhecem a obra prima do humanista espanhol Miguel de Cervantes,Dom Quixote,mesmo que não leu o livro sabe que o personagem principal lutava contra as hélices do moinho,crente de eram os braços de um temível gigante,o Briareu.

Então vem a pergunta,contra quem lutamos,quem são nossos inimigos,qual é nossa ideologia?

Podemos responder,por falta de cautela,que somos todos anarquistas individualistas,anarquistas coletivistas,socialistas ou niilistas e lutamos contra a burguesia.

Ocorre que em nosso tempo a contestação política e cultural tomou o caráter de um ativismo anti-burguês,lutamos não contra a classe burguesa,organizada e solidária entre si,mas contra um tipo abstrato e caricato de homem burguês.

Para a literatura sociológica burguês é todo aquele que,no mundo moderno,pertence aos estratos elevados na divisão social do trabalho,distingüe-se dos demais homens pelo poder econômico,acadêmico ou tecnológico;a sociologia é concisa na sua definição do burguês,de modo que podemos atribuir o conservadorismo político-cultural a elite social de qualquer época,manos identificá-lo como sendo essencial e necessariamente burguês.

No momento em que escrevo esse texto,estou desempregado e uso um tênis rasgado,mas ainda pertenço a classe burguesa,ainda pertenço porque se as coisas piorarem posso virar ploletário ou mendigo.

O ser burguês não é algo substantivo no sujeito,mas um ser em construção,reforma e reestruturação material,política,ideológica e cultural.

Se é permitido ressuscitar um velho barbudo do século XIX,o Karl Marx,tio Marx para os íntimos,ele lhes dirá que o homem burguês é um sujeito criado,inventado pela revolução industrial e pela restruturação da ordem jurídica civil.

O tio Marx ainda dirá que existe a classe em si e a classe por si,isso significa que quando um grupo de pessoas pertence ao mesmo estrato sócio-econômico e não está organizado,como é caso da classe operária francesa antes de Graco Babeuf,lembrando que antes da revolução francesa não havia classe operária e sim servos da gleba e citadinos pobres,temos aí a classe em si,a classe por si aparece quando as pessoas do mesmo estrato social se organizam.

Sabemos que nem todo burguês é solidário a sua classe,evidente,mesmo porque esses burgueses rebeldes são nossos pais ideológicos,lembrando aqui que burguês é só o estrato social do sujeito e não uma realidade ontológica.

Na velha Europa do século XIX encontramos uma divisão social ainda mais rígida,operários famélicos lotando as fábricas quentes,escuras e insalubres para um lado e um grupo heterogêneo de banqueiros,industriais,professores acadêmicos,poetas e jornalistas para o outro ,nesse último grupo encontramos o burguês que escreveu O Teatro e seu duplo,um certo Antonin Artaud,outro que escreveu Genealogia da moral,um certo Nietzsche.

Não podemos considerar que todos os burgueses são nossos inimigos,que toda arte que não nos agrada é burguesa,que todo esngajamento que difere do nosso é burguês.

Contestação ''anti-burguesa'' é uma forma vazio de ativismo político-cultural.

Podemos considerar o que se segue:

Não passa pela nossa cabeça que quando Nietzsche escreveu Geneologia de moral,esqueceu que seu desprezo pela mulher foi construido pela civilização que o gerou.

Sentimos que um poeta contestador é necessariamente um homem mais liberal que os outros,esquecemos que Gregório de Matos foi o maior poeta barroco do Brasil colonial,não teve pena de ninguém,foi exilado em Angola,o degredo era o pior castigo depois da forca e da fogueira,masmo assim,ele não deixou de ser escravocrata,racista e monarquista,como todos os senhores fiéis a lei de seu tempo.

Feyrebend participou da juventude hitlerista,pior gremiação política ele não poderia achar,ainda assim abriu para a ciência a perspectiva de um anarquismo epistemológico.

Nelson Rodrigues chocou a moral burguesa da família,no Brasil do século XX,mas apoiou o regime militar;disse que o burguês é melhor que o esquerdista e o homem melhor que a mulher.

Chocar a ''moral burguesa'',a moral da época,a ''estética da elite'' e a filosofia dominante não basta,isso já foi feito antes de nós.

Nossos inimigos não são os poetas parnasianos,mas aqueles que vedaram o ingresso de Lima Barreto à Academia Brasileira de letras,não é o escritor José de Alencar,mas o senador José de Alencar,não são os cantores de Bossa nova,mas os que esnobaram a Nara Leão quando ela foi cantar nos morros cariocas.

Pode-se ser contestador e gostar de poesia parnasiana,ou como dizia Raul Seixas ''Se eu quero tomar banho de chapéu..ou esperar papai Noel..então vá,faça o que tu queres,pois é tudo da lei,da lei!''

O Lobão disse que o Chico Buarque é tedioso e pequeno burguês ,o homem que compôs Geni e o Zepelim,Construção,Cálice e o Cio da terra merecia mais respeito,o Lobo mal se esqueceu que muitas composições do Chico contestaram o regime militar,numa época em que mulheres eram seviciadas com
cacetete e os homens tinham seus testículos eletrecutados.O Lobo mal foi bobo.

É estupidez acusar as pessoas que têm ''aparência burguesa'',o rock não é menos burguês que a bossa nova,o reggae,talvez,mas os *skinheads da Jamaica o chamaram de estilo burguês.

O termo burguês designa pouca coisa no universo da cultura contenporânea,assim encontramos o gigante Briareu no moinho e os sarracenos na plantação de trigo.

*Skinhed não tinha a denominação que tem hoje.Ver outra publicação do CMI.

Email:: heitoroliveira@ymail.com

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Salvador sobre duas rodas

A Prefeitura de Salvador vem nos últimos tempos incentivando a população a adotar a bicicleta como meio de locomoção. A idéia é desafogar o trânsito e reduzir a emissão de gases nocivos à atmosfera. Trata-se de uma atitude louvavel, mas que precisa ser amparada por uma estrutura que forneça segurança e tranquilidade para os ciclistas, o que não é o caso de nossa capital.

O jornal A Tarde veiculou matéria no mês passado, na qual comparava a malha cicloviária de Salvador a outras capitais, demonstrando o despreparo de nossas vias para receber as desejadas bicicletas. Temos uma das menores malhas cicloviárias do país, apesar de sermos a terceira capital em extenção territorial. A proposta de ampliação das ciclovias, feita pela prefeitura parece até piada diante do interesse pela adoção desta modalidade de transporte. Precisamos rever nossa estrutura e encontrar soluções viaveis e urgentes para que possamos andar de bicicleta com segurança e comodidade. Acredito que ninguém vai deixar seu carro em casa se não puder contar com um espaço seguro para transitar, bicicletários em locais estratégicos e educação dos motoristas, que não estão preparados para receber os vulneráveis ciclistas nas vias públicas.

A proposta deste tópico é que comentemos e deixemos nossa colaboração, em idéias, críticas e soluções. Fiquem à vontade!